Luana do Crato faz apresentação em São Paulo, no 6° Festival Cenas Cômicas

Com mais de três décadas dedicadas à arte do riso, o cearense Luciano Lopes segue reafirmando sua relevância na cena cultural nacional. No próximo dia 8 de julho, ele se apresenta no 6º Festival Cenas Cômicas, promovido pelo tradicional Espaço Parlapatões, em São Paulo, com sua personagem mais icônica: Luana do Crato. A participação marca um momento especial na carreira do artista, que celebrou 30 anos de humor em 2024 com o lançamento do documentário “Ele é Ela com Muito Humor”.

O Festival teve início no último 1º de julho e movimenta a capital paulista reunindo artistas de todas as regiões do país em apresentações de stand up, palhaçaria, esquetes e cenas autorais. O evento é reconhecido como uma das maiores vitrines da comicidade nacional, e a presença de Luciano Lopes reforça o papel do Nordeste como fonte de criatividade e humor autêntico.

Nascido no Crato (CE), Luciano iniciou sua trajetória artística ainda na infância, em 1987. De lá para cá, construiu um currículo respeitado, com mais de 100 espetáculos teatrais como ator e diretor, seis filmes, participações em programas de televisão, projetos educativos e ações culturais de impacto. Seu trabalho é reconhecido por unir arte popular, crítica social e valorização da identidade nordestina.

Um dos pontos altos de sua trajetória literária foi o lançamento do livro “Maricota Mariquinha”, publicado pela editora Giostri de São Paulo e distribuído para as bibliotecas públicas do Ceará. A obra destaca sua faceta de dramaturgo e educador, áreas em que também tem formação: Luciano é graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia, Direção Teatral e possui duas pós-graduações — em Gestão de Talentos por Competência e Arte Educação e Cultura Popular.

Além da atuação nos palcos, Luciano se destacou na gestão de projetos culturais. É fundador das Marmotas Produções, responsável por lançar diversos novos nomes do humor cearense, e do grupo Bilu Bila e Cia, que atua com teatro de rua e palhaçaria, promovendo arte acessível em comunidades, escolas e eventos culturais. A sua atuação extrapola os limites do entretenimento, atingindo o campo da formação artística, da inclusão e da cidadania cultural.

Em reconhecimento a sua contribuição para a cultura, Luciano recebeu diversas homenagens, incluindo o título de Cidadão Juazeirense e o Diploma de Mérito Legislativo pela Prefeitura do Crato. Essas condecorações simbolizam o impacto de sua obra não só no meio artístico, mas também na construção de identidade e pertencimento das comunidades onde atua.

A personagem Luana do Crato, que será apresentada no Festival de Cenas Cômicas, é fruto dessa trajetória múltipla. Luana representa a força da mulher nordestina, com humor ácido, olhar popular e sotaque afiado. No palco do Espaço Parlapatões, a personagem promete arrancar gargalhadas e emocionar o público com sua crítica bem-humorada sobre o Brasil profundo.

O Parlapatões, onde acontece o festival, é um dos espaços mais consagrados da arte cômica brasileira. Fundado em 2006, no coração da Praça Roosevelt, o grupo já realizou montagens premiadas, estreias de sucesso, festivais de humor e mostras de dramaturgia, sendo um marco na revitalização cultural do centro paulistano. O Festival de Cenas Cômicas é uma das ações que consagra essa trajetória de estímulo ao riso como linguagem estética e política.

A participação de Luciano Lopes neste contexto não é apenas uma conquista individual, mas um símbolo da força do humor cearense no cenário artístico nacional. Em tempos em que a comédia muitas vezes é subestimada, a presença de um artista com tamanha bagagem é um lembrete: o riso é arte, é voz, é resistência — e tem sotaque do Cariri.

DEMOCRACIA, COMUNICAÇÃO E A ILUSÃO DO VISÍVEL

*Por Guto Araújo

A democracia, em sua essência, é um sistema no qual partidos perdem eleições. Essa simples constatação revela sua natureza dinâmica, aberta e, por isso mesmo, conflituosa. Entretanto, o ambiente político contemporâneo, profundamente moldado pela lógica dos algoritmos, transformou esse conflito saudável em uma batalha de paixões inflamadas.

Em vez de promover a união por meio de ideias comuns, o novo ecossistema comunicacional estimula engajamento por meio do medo, do ressentimento e da repulsa. Nesse cenário, as disputas políticas deixaram de ser apenas debates de propostas para se tornar confrontos identitários. Cada lado se enclausura em sua própria bolha digital, reproduzindo narrativas que reforçam suas certezas e demonizam o outro. A informação deixou de ser um instrumento de esclarecimento e passou a servir de espelho, refletindo apenas o que se quer ver — e reforçando o que se quer sentir.

O resultado é uma perigosa transformação afetiva da política. A identificação pessoal com o grupo de pertencimento se intensifica, e o adversário político é elevado à condição de inimigo. Não se trata mais de discordância legítima, mas da percepção de que o outro representa uma ameaça à própria existência do grupo. Quando a polarização atinge esse grau de afeto e hostilidade, o diálogo cede lugar à destruição simbólica, e o espaço democrático se estreita.

Ao mesmo tempo, o espaço digital passou a exigir algo que nem sempre a política tradicional soube oferecer: autenticidade. Já não basta parecer jovem, moderno ou antenado. Na internet, imposturas são rapidamente desmascaradas e ridicularizadas. O público percebe a artificialidade, e os eleitores buscam, ainda que inconscientemente, coerência entre discurso e prática. A comunicação, portanto, não pode mais ser episódica, reativa ou pautada por modismos. Ela deve ser contínua, aberta ao diálogo e atenta ao que está além do imediatismo das tendências.

Diante desse quadro, torna-se indispensável relativizar. Relativizar importâncias e desimportâncias, discursos e silêncios, ganhos e perdas, ataques e defesas. É preciso manter a lucidez em meio ao ruído. A comunicação eficaz em uma eleição não é aquela que mais grita ou mais viraliza, mas a que mais compreende — a que enxerga além da espuma visível da disputa.

A metáfora do iceberg é precisa: nas eleições, 10% do que importa está acima da linha d’água — são os analistas, jornalistas, especialistas, influenciadores, dirigentes partidários e magos da comunicação que dominam o debate público. Mas os 90% que realmente importam estão submersos. Invisíveis, silenciosos, mas determinantes. São os eleitores, as pessoas comuns, que não protagonizam o espetáculo, mas que têm nas mãos o destino de qualquer candidatura.

No fim das contas, a vitória ou a derrota em uma eleição não se decide no ruído das redes ou na performance dos debates. Decide-se no olhar atento e respeitoso àqueles que não gritam, mas votam. Numa democracia verdadeira, são eles que afundam ou sustentam um projeto político. E esquecê-los é, inevitavelmente, naufragar.

*Guto Araújo é publicitário e estrategista de comunicação e marketing político