Milhões de Brasileiros correm o risco de perder seus investimentos em energia limpa e comprometer liderança global
Enquanto a comunidade global se prepara para a COP 30, que colocará o Brasil no centro da discussão climática, um paradoxo no setor de energia ameaça a reputação e a liderança do país. Embora o Brasil ostente uma matriz elétrica majoritariamente renovável, um modelo para o mundo que busca triplicar sua capacidade limpa até 2030, problemas estruturais devido a falta de planejamento do governo no setor elétrico tem causado problemas à energia limpa, que tem crescido bastante com investimento privado, porém tem passado por riscos tanto de perda de receita com cortes nas grandes usinas como riscos regulatórios para os pequenos produtores.
Segundo Lucas Melo, especialista do setor de energia solar, a urgência não está mais em gerar, mas em escoar e armazenar essa energia. “Temos sol e vento em profusão para liderar a transição energética global. No entanto, de nada adianta essa abundância se não conseguimos levar a energia gerada no Nordeste para os grandes centros de consumo no Sudeste,” afirma Lucas. Ele alerta que o Brasil corre o risco de se tornar a “potência verde presa ao chão”, incapaz de usufruir de seu próprio recurso.
A gravidade do problema é sublinhada por estudos recentes que indicam que os cortes na geração renovável (curtailment), que é o desperdício de energia limpa por incapacidade da rede absorvê-la, podem aumentar em até 300% na próxima década, mesmo com projetos de transmissão em andamento. Essa ineficiência é o maior gargalo logístico do setor elétrico e coloca em cheque a estabilidade e a acessibilidade do sistema.
Para Melo, o debate da COP 30, que se concentrará em Financiamento Climático, precisa mirar pragmaticamente na infraestrutura. O Brasil precisa de investimentos maciços em duas frentes: expandir e modernizar a rede de transmissão e distribuição e avançar rapidamente em investimentos de baterias para armazenamento. “É fundamental que sejam realizados urgentemente os leilões específicos para tecnologias de baterias no Brasil. O armazenamento é uma das chaves para equalizar a intermitência da energia solar e eólica, garantindo a segurança do sistema e mitigando o risco de desperdício. Sem isso, a nossa posição de liderança mundial não se sustenta,” conclui o especialista.