Justiça social no local de trabalho: por onde começar?

*Rui Rocheta

Como representante de uma multinacional na área de RH, lidero equipes em diversos mercados, que vão desde as economias mais avançadas, como França, Portugal e Espanha, até países emergentes, como Brasil e outras nações da América Central e do Sul. Embora as empresas e candidatos com os quais os times trabalham sejam promissores, reconhece-se que o momento atual de transformação e evolução da economia global não está impactando todos os negócios e profissionais em busca de emprego da mesma forma.

No início deste ano, a World Employment Confederation (WEC) emitiu uma mensagem anunciando o lançamento de uma Coligação Global para a Justiça Social e os 100 primeiros parceiros que aderiram a essa iniciativa. É importante destacar essa atividade e refletir sobre o impacto que poderá ter nos países de atuação das equipes. Nesse contexto, dois elementos merecem especial atenção. O primeiro se refere às disparidades que os empregadores e candidatos enfrentam em seus mercados. O segundo é como os diversos países lidam com a necessidade de elaborar programas de treinamento profissional de longo prazo personalizados de acordo com as necessidades de cada empresa, incorporando os conceitos de requalificação e desenvolvimento profissional.

A seguir, são apresentadas algumas questões em que os programas (como os desenvolvidos pelo WEC) precisam se concentrar, de modo a contribuir para um universo laboral socialmente mais justo, com diversas formas de emprego.

Transformação técnica e digital

Em um mundo do trabalho socialmente justo, os novos recursos e as tecnologias avançadas devem estar disponíveis para todos. A realidade, porém, é que algumas regiões (incluindo os mercados na América Central e do Sul) nem sempre têm acesso às mesmas tecnologias que os seus pares na América do Norte e na Europa. Dito isto, o acesso à tecnologia (especificamente conexões remotas à Internet e Wi-Fi) é extremamente importante nos espaços de trabalho atuais. A conectividade garante mais oportunidades para os modelos de trabalho híbrido e remoto. Além disso, ela permite que nômades digitais trabalhem e prestem serviços aos empregadores onde quer que estejam. Em outras palavras, um mundo de trabalho justo é conectado!

Instabilidades geopolíticas, mudanças climáticas e mobilidade

Uma segunda variável da equação para um mercado de trabalho mais justo é a capacidade dos governos e empresas de apoiarem o acesso ao emprego para profissionais que procuram emprego temporário e flexível em situações de incerteza. Atualmente, os conflitos regionais em algumas áreas da Europa, no Oriente Médio, e até mesmo confrontos esporádicos em regiões da América Latina, levaram os trabalhadores a procurar oportunidades de emprego em outras partes do mundo, que são mais estáveis. Além desses conflitos, as alterações climáticas e as catástrofes naturais motivaram o deslocamento de indivíduos em busca de oportunidades econômicas em outros locais. Ao apoiar modelos de trabalho e emprego socialmente justos, incluindo programas governamentais para trabalhadores temporários e contratação de refugiados com base em competências, as empresas com escassez de trabalhadores qualificados conseguem acessar bases de talentos mais amplas. Além disso, garantir oportunidades de emprego aos trabalhadores móveis é uma forma de fazer com que esses profissionais se tornem contribuintes nos sistemas de seguridade social das sociedades em que se inserem. O resultado é uma redução da participação de atividades econômicas ilegais no PIB nacional e regional.

Disparidades econômicas e acesso ao trabalho sustentável

Um terceiro ponto importante é a necessidade de os empregadores considerarem uma remuneração adequada para os funcionários. Também vale observar como esse elemento afeta a capacidade dos profissionais em realizar um trabalho de qualidade e a sua vontade de permanecer com determinado empregador. Em muitas regiões do mundo, incluindo a Europa e a América Latina, os últimos anos foram marcados por uma inflação galopante que ultrapassou consideravelmente o crescimento real dos salários. As empresas e os governos comprometidos com ambientes de trabalho socialmente justos tomarão medidas para garantir que os profissionais possam realmente viver com os salários que levam para casa. Um mundo laboral socialmente justo proporciona um trabalho que não é apenas seguro e satisfatório, mas que também dá aos indivíduos que trabalham a oportunidade de melhorar sua situação econômica e crescer individualmente.

Não é possível oferecer soluções para todas essas preocupações em um único artigo. No entanto, espera-se que esforços como os da WEC, Fórum Econômico Mundial, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outros grupos semelhantes chamem a atenção dos decisores políticos e dos líderes empresariais (CEOs e equipes executivas) da região. O crescimento econômico só é sustentável a longo prazo se proporcionar segurança econômica e pessoal aos funcionários e trabalhadores, por meio dos salários e benefícios oferecidos. Na era da tecnologia, também é importante reforçar que, ainda que as máquinas possam realizar o trabalho que antigamente era feito por pessoas, essas próprias tecnologias dependem de conhecimentos e comandos humanos.

O compromisso nas áreas de RH, recrutamento e seleção é garantir que os candidatos tenham o treinamento necessário para assumir essas novas funções e se destacar em seu trabalho. Em especial, precisa-se proporcionar aos profissionais segurança emocional e econômica, de forma a melhorar o mundo do trabalho e torná-lo mais seguro, justo e enriquecedor.

* Rui Rocheta é Regional Head Latam da Gi Group Holding

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