Fortaleza se firma como novo polo do mercado imobiliário de luxo no Brasil.
Com tíquete médio acima de R$ 3 milhões, capital cearense supera metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro e atrai compradores exigentes de todo o país_
Por Sacha Myrna – corretora de imóveis de luxo e CEO da X Metros Quadrados Soluções Imobiliárias, com atuação nas principais capitais do Nordeste e em São Paulo. Especialista em curadoria de imóveis de luxo.
Fortaleza tem chamado atenção do mercado imobiliário de imóveis de luxo. Segundo levantamento da consultoria Brain Inteligência Estratégica, a capital cearense registrou tíquete médio superior a R$ 3 milhões em lançamentos residenciais de luxo — superando centros consolidados como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas o que explica essa guinada? Como uma cidade do Nordeste se tornou protagonista nacional em um dos segmentos mais competitivos do setor? A resposta passa por localização privilegiada, escassez de terrenos nobres, mudança de perfil do comprador e a ascensão da orla como destino de moradia de alto padrão.
A valorização da orla e o boom do pós-pandemia
O crescimento do segmento de luxo em Fortaleza não é por acaso. Vem sendo construído ao longo de anos, mas teve um ponto de inflexão claro: a pandemia. Com o desejo de mais espaço, conforto e qualidade de vida, compradores passaram a buscar imóveis amplos e bem localizados. E foi na orla da capital cearense que encontraram essa combinação — com vista para o mar, metragens generosas e novos empreendimentos com alto padrão construtivo.
“Há uma valorização afetiva do litoral. Fortaleza entrega vista permanente para o mar, clima agradável o ano inteiro e preços ainda competitivos em relação a grandes centros”, afirma, Sacha Myrna.
Tíquete médio alto: o metro quadrado justifica?
Ao contrário de São Paulo e Rio, onde há pulverização de produtos e grande volume de studios e apartamentos compactos, Fortaleza tem focado em imóveis amplos, geralmente com mais de 200 m², localizados em terrenos escassos da beira-mar. Isso eleva o preço total das unidades, mesmo que o valor por metro quadrado não seja o mais alto do país.
Esses empreendimentos de luxo entregam diferenciais como varandas gourmet com vista oceânica, pé-direito elevado, materiais nobres, automação residencial, infraestrutura para carros elétricos e áreas comuns completas, incluindo spa, piscinas com borda infinita, wine bars, coworkings e academias com equipamentos profissionais.
Quem compra? E por quê?
O público comprador é formado, em sua maioria, por cearenses de alto poder aquisitivo que desejam upgrade ou segunda residência. No entanto, investidores de outras partes do país, especialmente do eixo Sul-Sudeste, têm apostado na valorização da região. Estrangeiros também começam a se interessar, principalmente portugueses e americanos, atraídos pelo litoral, pela segurança e pelo custo-benefício.
Entre os perfis, há tanto quem busque moradia definitiva quanto quem compre para renda com aluguel de temporada ou segunda residência. O pós-pandemia fortaleceu essa busca por refúgios urbanos — apartamentos com infraestrutura de resort, integrados à natureza e com alto nível de privacidade.
Alta concentração e impactos urbanos
Grande parte desses lançamentos está concentrada em bairros como Meireles, Mucuripe, Varjota e Aldeota, todos próximos ou voltados para o mar. A verticalização de alto padrão valoriza a paisagem urbana e movimenta o setor da construção civil, mas também levanta alertas sobre mobilidade e desigualdade.
A presença de empreendimentos de luxo junto a áreas de vulnerabilidade social torna ainda mais evidente o contraste urbano. Embora alguns projetos incluam requalificações de calçadas e praças públicas, o diálogo com o entorno ainda é limitado. A legislação municipal prevê poucas exigências em termos de contrapartidas sociais ou sustentabilidade, o que representa um desafio futuro.
Tendências: do boutique ao wellness
As novas demandas do mercado de luxo também já chegaram a Fortaleza. Empreendimentos boutique, com poucas unidades e plantas personalizáveis, estão em alta. Assim como os projetos com foco em wellness, que oferecem spas, salas de meditação, horta suspensa, espaço zen e até aromaterapia no hall de entrada.
Há também o início de uma virada no uso do espaço urbano com lançamentos mixed-use, que integram moradia, lazer e conveniência no mesmo lugar. A tendência é que esses conceitos ganhem mais força, especialmente entre um público mais jovem e digital, que valoriza praticidade e estilo de vida contemporâneo.
O que esperar do mercado de luxo em Fortaleza nos próximos anos?
A perspectiva é de crescimento contínuo, ainda que mais seletivo. Com o estoque de terrenos na orla cada vez mais limitado, novos vetores de valorização surgem — como a Praia do Futuro, o entorno do Parque do Cocó, Varjota e Porto das Dunas, voltado a segunda residência.
Se as incorporadoras souberem inovar e o poder público apoiar com planejamento urbano, Fortaleza tem tudo para manter sua posição como referência nacional no mercado de luxo. A cidade está mais do que nunca no radar dos compradores exigentes e esse movimento parece estar só no começo.