Inteligência artificial contra o analfabetismo funcional

Tecnologia pode ser ferramenta no desenvolvimento da educação no país

Os dados recentes divulgados pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) mostram que o índice de analfabetismo caiu no país. O levantamento identificou que baixou de 5,6% em 2022 para 5,4% no ano passado a proporção de brasileiros acima de 15 anos que não sabem ler nem escrever.

Apesar da queda, o país ainda está bastante distante do cumprimento da meta de erradicação do analfabetismo. Em 2014, o Plano Nacional de Educação mirava em 2024 o ano em que o problema seria solucionado. Com cerca de 9,3 milhões de analfabetos, ainda parece distante o horizonte para o fim desta tragédia.

Para piorar o quadro, o Brasil convive com uma multidão ainda muito maior de flagelados da educação. São os analfabetos funcionais. Pessoas sem o domínio pleno da leitura e escrita, que sabem ler e escrever, mas não conseguem compreender e interpretar minimamente um texto. Este grupo representa cerca de 11,4% da população acima dos 15 anos ( 20 milhões de pessoas no Brasil). Os dados são do INEP.

As estatísticas variam de instituto para instituto, mas algumas chegam a ser ainda mais alarmantes. Dados do Índice Nacional de Analfabetismo Funcional (Inaf) informam que 38% dos estudantes universitários brasileiros fazem parte do grupo que não domina minimamente a compreensão de um texto. São analfabetos funcionais.

Quem frequenta o ambiente universitário brasileiro sabe que, mesmo que esses números estejam supervalorizados, a realidade não é muito distante dos que as estatísticas informam.

No ensino médio, a realidade é parecida. Os últimos números do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) para alunos de 15 e 16 anos mostra o Brasil no 52.º lugar entre 81 países quando o assunto é leitura.

Para superar essas marcas desonrosas, já existem ferramentas pouco ou quase não usadas no país. A identificação da capacidade de fluência leitora dos alunos é uma delas. O teste, aplicado nos primeiros anos do ensino fundamental, é capaz de identificar a precisão, compreensão e agilidade de leitura textual. O resultado mostra o quão fluente é a leitura do aluno dentro das expectativas para seu ano curricular.

No entanto, são poucos os estados e municípios brasileiros que adotam estes tipos de testes. Os que utilizam, fazem uso de testes manuais. Após a gravação do texto da leitura do aluno, um professor faz as correções e dá a nota. Como os critérios são distintos de examinador para examinador, as notas podem variar significativamente e perdem a precisão. Além disso, as avaliações em grande escala são demoradas.

Mas já é possível contornar este problema. Está disponível no mercado o uso de ferramentas de aprendizado de máquina e de inteligência artificial que permitem realizar os testes de forma automatizada, com alto grau de precisão, uniformização dos resultados e com resultados de forma imediata.

Os testes poderiam ser aplicados em massa e agilizar na identificação de alunos com problemas graves de compreensão de texto. Além disso, este tipo de tecnologia pode ser ainda um auxiliar na identificação de crianças com atrasos cognitivos. Alunos com notas muito abaixo das demais de sua turma poderiam até mesmo ser encaminhados para avaliação profissional.

Já é sabido, desde tempos imemoriais, que os níveis educacionais interferem na produtividade e desenvolvimento de um país. É preciso que o sistema de educação brasileiro identifique nos primeiros anos escolares a capacidade de fluência leitora de seus alunos. Não existe uma nação desenvolvida na qual o seu povo não domine a capacidade de leitura.

Aliás, se a inteligência artificial é o novo hype do momento para diversos fins, precisamos aproveitar essa onda da tecnologia, já de acesso no mercado de fluência leitora, para nos auxiliar naquilo que o Brasil vem lutando há anos sem êxito: fazer um gol na educação.

Mônica Timm de Carvalho, CEO da Elefante Letrado

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