Inteligência financeira: manejo do fluxo de caixa em prol de empresas saudáveis
*Por Marcia Rossi
Os pequenos negócios são considerados um pilar essencial na economia brasileira, formando um ecossistema empresarial vasto que afeta de maneira significativa a vida de quase metade da população do país. Este impacto se estende diretamente e indiretamente a aproximadamente 47% dos brasileiros, entre proprietários de empresas e colaboradores, segundo informações recentes da Receita Federal e do Sebrae. Neste sentido, lidamos com 39 milhões de pequenos empresários no país, incluindo microempreendedores individuais (MEI), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), além de companhias familiares.
Mesmo com toda essa representatividade dentro do cenário econômico do Brasil, um em cada três MEIs não chega a ultrapassar a marca dos cinco anos de atividade. E o que tem levado essas empresas a fecharem suas portas? Empreendedores admitem a falta de conhecimento, combinada com uma motivação mais impulsionada pela necessidade do que pela visão de uma oportunidade futura. Um contexto propício ao insucesso.
Olhando para esse foco sobre a mortalidade dos negócios, é possível observar, ainda, que o custo que mais pressiona as finanças das empresas está atrelado à prevalência de tributos. Esta condição parece interessante, visto que os pagamentos obrigatórios como Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) deveriam escalar proporcionalmente com o aumento das vendas ou da prestação de serviços – e repassados ao preço final. Consequentemente, o volume de vendas por si só não alivia a carga tributária devida e os tributos figuram como uma constante dor de cabeça para os empresários.
O segundo maior custo está relacionado à compra de matéria-prima e mercadoria – outro consumo variável que irá depender da demanda da companhia – o que difere de gastos com funcionários e aluguel, que, normalmente, são contas mensais constantes e que devem ser desembolsadas pela empresa, independentemente do volume ou desempenho de vendas do negócio.
As PMEs precisam levar em consideração o manejo do fluxo de caixa, tendo como desafio o alinhamento entre as saídas e entradas de dinheiro na companhia. Dependendo do intervalo de tempo entre a obrigação de pagar tributos e fornecedores (e a efetivação dos recebíveis dos clientes), cria-se uma lacuna que pode comprometer o capital de giro – ou seja, o dinheiro da empresa, que deve ser considerado como um investimento nos negócios a médio e longo prazo.
É imprescindível ter uma estratégia financeira que leve em consideração tanto as previsões de vendas quanto a cronologia de quaisquer pagamentos e recebimentos. No entanto, um fator extra se apresenta nesta equação: a atuação desses pequenos negócios em um mercado de concorrência, que amplifica suas fragilidades. A facilidade de entrada de novos concorrentes e a alta competitividade, com pouca ou nenhuma diferenciação entre produtos e serviços, desafiam o cenário empresarial.
Em vez de navegar por um “oceano azul” com borda infinita de oportunidades, essas organizações encontram-se em um “oceano vermelho”, lutando por espaço em um ambiente saturado de concorrentes, onde frequentemente os preços são ditados pelo mercado – o que faz com que o empreendedor sofra para conquistar sua margem de lucro. Um contexto que exige não apenas uma gestão estratégica afiada, mas uma capacidade inovadora para se destacar e sobreviver.
Assim, a eficiência no planejamento empresarial e de riscos devem ser iniciados bem antes do começo das operações, requerendo entendimento do mercado e estratégia de entrada e crescimento. Um plano de negócios bem elaborado, abarcando desde o planejamento até uma educação contínua e gestão proativa de crises, pode determinar a sobrevivência de uma empresa em períodos desafiadores. Além disso, nesta dinâmica competitiva, deve-se focar na eficiência e redução de custos, investir em soluções inovadoras e no desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis.
*Marcia Rossi é Doutora em Administração, especialista em Direito Tributário, professora e palestrante em Controladoria, Estratégia e Tributos.